Segue abaixo matéria que demonstra os dados mais recentes que se tem
quanto a gasto público em Saúde no Brasil, assim como de gastos
familiares.
Também há uma breve discussão do mercado de trabalho do setor, com relação a remuneração média e déficit de contratação.
A produção é da Agência Estado e Agência O Globo.
Segue a matéria, retirada da Gazeta do Povo:
Pesquisa
Famílias arcam com 56% do gasto com saúde
Pesquisa do IBGE revela que o povo gasta quase 30% a mais que o governo para ter acesso a bens e serviços médicos
Publicado em 19/01/2012 | Agência Estado e Agência O Globo
O sistema de saúde é universalizado, mas a realidade aponta para o
desequilíbrio. A pesquisa Conta-Satélite de Saúde Brasil, publicada
ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e com
dados referentes ao ano de 2009, revela que o brasileiro gasta 29,5% a
mais do que o governo para ter acesso a bens e serviços de saúde.
Enquanto o Estado tem um dispêndio de R$ 645,27 por pessoa, o gasto
per capita das famílias fica em R$ 835,65.
Em todo o território nacional, mais da metade das despesas são arcadas pelas famílias enquanto 43,7% são cobertos pela administração pública. Em números absolutos, os gastos privados com saúde em 2009 somaram R$ 157,1 bilhões, 27% a mais que os R$ 123,5 bilhões pagos pelo setor público.
Em todo o território nacional, mais da metade das despesas são arcadas pelas famílias enquanto 43,7% são cobertos pela administração pública. Em números absolutos, os gastos privados com saúde em 2009 somaram R$ 157,1 bilhões, 27% a mais que os R$ 123,5 bilhões pagos pelo setor público.
Apesar de as famílias gastarem mais, foi o governo que experimentou o
maior crescimento de participação entre 2008 e 2009 e isso ocorreu com
as despesas da administração pública em serviços de saúde, sobretudo,
aquelas ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) que chegaram a 5,6% ante
5,4%, da pesquisa anterior. Os gastos da administração pública passaram
de 3,5% para 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto as das
famílias subiram de 4,7% para 4,9%.
Situação ímpar
Também em 2009, todos os países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), com exceção apenas do Chile, México e
Estados Unidos, responderam, em média, por 72% das despesas com saúde.
Ainda que na conta da OCDE entrem também os gastos com investimento
(construção de hospitais e compra de equipamentos), os países da
Organização contribuem mais para o custeio do setor que o Brasil. “Mantemos um padrão de sistema privatizado, mas que constitucionalmente é universalizado”, afirma a professora Ligia Bahia, do Laboratório de Economia da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para o gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Ricardo
Montes Moraes, a disparidade de gastos entre famílias e governo é
atípica. “Isso [o fato de as famílias gastarem mais que o
governo] é algo que não é comum e se deve ao fato de a saúde no Brasil
ser tão privatizada”, considera.
No ano em que a economia brasileira encolheu 0,3%, os gastos de
famílias e da administração pública com saúde como proporção do PIB
subiram. A parcela de despesas com medicamentos, exames, consultas e os
custos da administração pública com salários e serviços subiram de 8,3%
do PIB, em 2008, para 8,8% do PIB em 2009. Moraes explica que os gastos
com consumo tendem a variar menos que a economia em geral e que o
movimento é comum em países que enfrentam recessões. “O aumento dos
gastos não ocorre só no Brasil, mas em vários países que passaram por
crises. A tendência tem a ver com o aumento da renda, o envelhecimento
da população e não necessariamente com a introdução de novas
tecnologias, que ainda é um tema bastante controverso”, pondera.
Setor gera menos postos, mas paga melhor
Tanto os governos quanto as famílias aumentaram as despesas com saúde
em 2009, mas, na geração de emprego, os setores público e o privado
seguiram caminhos opostos. Em comparação com 2008, houve redução de
58.961 postos de trabalho em saúde pública, enquanto as atividades
privadas tiveram aumento de 58.840 vagas. Com isso, o total de ocupações
em atividades relacionadas à saúde ficou estagnado em 4,326 milhões de
vagas, com uma pequena redução de 121 empregos. Os números referem-se a
postos de trabalho e não número de trabalhadores. No setor, é comum que
um profissional tenha mais de um emprego.
Para os técnicos do IBGE, a queda nos postos de trabalho em saúde
pública é pontual e pode ser explicada por grande número de
aposentadorias sem reposição imediata dos servidores ou contratação de
serviços terceirizados, que não são contabilizados na conta de empregos
em saúde.
“Retração na oferta de emprego em saúde é uma catástrofe. O emprego
em saúde tende a crescer. É um setor com muita inovação tecnológica o
que, ao contrário de outras áreas, requer novos empregos, novos
profissionais. Esses números podem explicar por que você vai em um posto
de saúde e faltam médicos, enfermeiros”, afirma a médica e professora
da UFRJ Ligia Bahia.
O mercado de trabalho na saúde tem profissionais mais qualificados e
maior grau de formalidade, o que contribui para a remuneração no setor
ser bem mais alta que a média de todas as atividades. Em 2009, a renda
média anual de uma vaga de trabalho em saúde foi de R$ 22.395 (R$
1.866,25 mensais), enquanto o valor para todos os setores foi de R$
14.222,04 (R$ 1.185,17 mensais). No total das atividades, há 47% de
trabalhadores com carteira assinada. Na área de saúde, a proporção sobe
para 71%.
Perpectivas
Pesquisadora diz que nada mudaráAgência O Globo
Para a professora do Laboratório de Economia da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ligia Bahia não houve mudança na estrutura dos gastos com saúde no país desde 2009. Ela também não vê uma tendência de crescimento das despesas da administração pública apesar da alta de participação verificada pela pesquisa. “No Brasil, o medicamento é comprado de forma totalmente separada da consulta e não é assim que acontece em um sistema integrado de saúde. A pesquisa mostra como é fragmentado nosso sistema de saúde e isso é preocupante tanto da lado da demanda, com pessoas em planos de saúde, quanto da oferta também. É um gasto muito pesado para as famílias e decepciona ainda não ver o impacto do programa Farmácia Popular nos números.”
RESSALVA:
Comentário de Mario Lobato:
COMENTÁRIO: A pesquisa - ao que tudo indica - esqueceu de computar as despesas com serviços de saúde que são deduzidas INTEGRALMENTE do Imposto de Renda. Com isto, uma enorme fatia dos gastos das famílias com serviços de saúde acaba sendo de fato financiada pelo governo. Segundo os cálculos do Gilson Carvalho a renúncia fiscal acaba por empatar a conta, ou seja: 50% governo X 50% gasto "privado".
Mesmo assim, o setor público brasileiro fica aquém dos percentuais de gasto praticados por países com sistemas universais de saúde, que são da ordem de 70% dos gastos totais.
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