sexta-feira, 27 de abril de 2012

Todo apoio à categoria dos trabalhadores estaduais da saúde de São Paulo que escolheram lutar!


“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. 
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, 
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. 
E já não podemos dizer nada”.

Fragmento de um poema de Eduardo Alves da Costa chamado “No caminho com Maiakóvski”



A greve da saúde estadual já passou do décimo dia. Momento tenso e importante de uma categoria que é muita lutadora! Tão lutadora que na greve trabalha muito mais: faz mobilização, fica fora do serviço com a escala mínima, faz assembléias, atos, uma grande manifestação na Avenida Paulista, panfletagens. Mas atende sim pacientes e não faz isso por medo, mas por ter clareza de não querer prejudicar a população.

Aí vai se formando o dilema. Em uma greve, por exemplo, em uma fábrica de carros, o trabalhador interrompe a produção e o prejuízo é do patrão, o que o força a negociar. No serviço público, e mais especificamente o da saúde, esta lógica não serve. Na greve o prejuízo não é do “patrão”, no caso o governador Alckmin, e sim da população. Podemos imaginar que prejudicando o acesso da população aos serviços isso prejudicaria o governador. Teoricamente sim, se fosse um governo comprometido e que se importasse com a população que utiliza o serviço. Mas não! Este governo não esta nem aí para quem não será atendido, despreza a população como igualmente faz com o trabalhador.

Então a tática do governo, aliás copiada do Serra que agora quer ser prefeito, é fingir que a greve não existe. Deixar o trabalhador falando sozinho, ou melhor, não falando nada. Mas isso a categoria já deixou claro que não vai acontecer!

Sabe por que? Porque a situação é absurda. É uma das categorias que mais sofreu nos últimos anos: sem aumento há mais de 10 anos, com um salário base muito abaixo do salário mínimo, perda de direitos como aumento da carga horária, perda do adicional por insalubridade, ticket alimentação vergonhoso e ainda por cima entrega de serviços do nosso SUS para o qual tanto lutamos para entidades privadas que estão fazendo lucro à custa do sofrimento dos usuários.

Durante todo este tempo a categoria, através do Sindsaúde/SP, foi muito responsável. Primeiro, há muito tempo se dispondo a negociar. Mas pouco se avança, pelo contrário, são muitos retrocessos. Depois fizeram manifestações para avisar que não estavam contentes. O terceiro momento foi avisar com bastante antecedência que a situação estava insuportável e que seria realizada a greve. E nada do governo! Chegou a greve da categoria com participação e indignação, mas tentando não prejudicar muito a população do Estado de São Paulo. E o que o governo faz? Desconsidera o movimento e mente para a população através da mídia, dando a entender que nos deu aumento de 40%, quando na verdade isso não aconteceu. Solta boatos de corte de pontos para desmobilizar os trabalhadores.

Mas o que fazer para o governo entender que a paciência desta categoria acabou?

Na verdade o governo quer jogar a população contra os trabalhadores da saúde, o que seria a maior das injustiças, e vamos lutar contra isso. E, queremos deixar claro, o governo tem a obrigação de apresentar uma proposta. Caso não, será inteiramente o responsável pelas consequências, pois está claro que os trabalhadores não deixaram que sua voz seja levada e já escolheram lutar por mais do que todas as reivindicações: por dignidade!

Todo apoio a greve da saúde estadual de São Paulo!

Segue abaixo o poema completo citado acima.


Paulo Spina


Trabalhador e delegado sindical de base do Sindsaúde no CAISM Água Funda, militante do PSOL e do Fórum Popular de Saúde de São Paulo. Constrói a Frente Nacional contra a Privatização da Saúde


Maria Aparecida dos Santos


Diretora Regional do SindSaúde Baixada Santista, militante do PSOL e do Fórum Popular de Saúde de São Paulo. Constrói a Frente Nacional contra a Privatização da Saúde



No Caminho com Maiakóvski

Autor: Eduardo Alves da Costa

Assim como a criança

humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!




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