Ativistas de todo o mundo vêem os conflitos ambientais na região e conhecem a tenacidade da luta dos pescadores artesanais contra o petróleo na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro.
Reportagens | Nota publicada em 18/06/2012 - 10:11 hs.
A chegada à Associação de Homens e Mulheres do Mar - AHOMAR, de Magé, dá o tom da situação narrada pelos pescadores: na entrada da rua de casas simples, que leva à praia e à sede, está o carro da polícia militar.
É que o presidente da Associação Ahomar, Alexandre Anderson, recebe ameaças de morte e faz parte do programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. Também sua esposa e outros companheiros seguem com a vida ameaçada, mas sem escolta. Mesmo assim, prometem seguir e seguir. Exemplo da persistência foi o protesto de 38 dias que realizaram em 2009. Bombas, polícia, ameaças. Não desistiram por nada. Pararam uma obra de 470 milhões de reais e impediram a instalação alguns dutos pela Petrobras.
Alexandre e o mangue destruído (Foto: pulsar) |
A criação da Ahomar e a luta contra a petroleira estatal começou em 2000, depois do maior derramamento já registrado: 1 milhão e 300 mil litros de óleo. Os pescadores contam que, segundo o Sindipetro-Caxias, a empresa bombeava o petróleo de forma inapropriada para elevar os lucros.
Depois do desastre, as redes passaram a voltar vazias: o esforço que antes gerava 70kg de pesca, hoje não gera nem 10 kg. Todos relatam o desaparecimento de muitas espécies. E as 9 mil famílias que ainda tentam viver da pesca artesanal na Baía da Guanabara estão sendo expulsas para a areia. Antes podiam pescar em 78% da baía. Agora se restringem a 10% desta área devido a poluição e também pelo impacto causado por dutos, píeres e navios que não param de ser construídos. E a Capitania dos Portos e seguranças privados da Petrobrás impedem o acesso às melhores áreas de pesca.
Os visitantes viram no mangue do bairro Ipiranga que, 12 anos depois, o óleo ainda brota do chão e segue contaminando tudo. Os caranguejos, fonte de sobrevivência de mais de 300 famílias, desapareceram. Os pescadores lembraram que, segundo a Petrobrás, esta é uma área recuperada. No entanto, as árvores que a empresa planta seguem morrendo. A comunidade resiste para que não sejam arrancados todos os troncos secos do mangue, testemunho do desastre ambiental.
Alexandre Anderson resumiu o problema: “A baía é a planta industrial da Petrobrás. Não há espaço para viver, trabalhar, ter lazer. E sei que aqui não é diferente de Yasuní, no Equador, da Nova Zelândia, do Espírito Santo ou do Rio Grande do Sul. Em todos os lugares a Petrobras deixa destruição. Mas aqui sentimos na carne: somos perseguidos e proibidos de viver como fazemos há centenas de anos. Nunca vimos desenvolvimento sustentável aqui”. E completou: “Resistimos para não morrer de tiro. Mas também para não morrer de depressão por não poder fazer o que sempre fizemos”.
No fim da tarde o Secretário de Meio Ambiente de Magé, Cláudio Cossentino, que pediu durante a semana um encontro com os visitantes, respondeu de modo evasivo às perguntas. Em geral justificava a falta de ação com frases como “Estamos no governo há apenas 9 meses, mas nossas portas estão abertas”. Ou afirmava a importância das questões levantadas colocando a responsabilidade sobre outro setor do Estado.
Na volta para o território da Cúpula dos Povos, os comentários mostravam que tanto o desastre socioambiental quanto a falta de respostas concretas do poder público guardam semelhanças com o que alguns visitantes vivem diariamente em seus países. São muitos os laços que unem a comunidade de Magé com o resto do mundo na luta contra empresas gigantes.
RIO+TÓXICO
O Rio+Tóxico procura aproveitar que os olhos do planeta estão virados para o Rio de Janeiro neste momento para sensibilizar a população sobre as lutas socioambientais que estão, obviamente, fora dos cartões postais.
Contudo, as atividades não são ações isoladas: fazem parte do processo de apoio às comunidades que já acontece há anos e têm o objetivo de criar mais redes de solidariedade e apoio, fortalecendo as resistências aos grandes empreendimentos.
Além de Magé, as visitas chegaram à Santa Cruz e Pedra de Guaratiba, locais afetados pela instalação da siderúrgica ThyssenKrupp. Em Duque de Caxias, além dos impactos da atividade petroleira na refinaria conhecida como REDUC, foram visitados a Cidade dos Meninos, onde há 50 anos resíduos de inseticida abandonados geram doenças na população, e em Gramacho, o maior aterro sanitário da América Latina. Fechado em junho, ainda faltam muitas respostas para as pessoas que viviam da cata de materiais na região e para solução dos problemas ambientais gerados.
*Retirado da Agência Pulsar
**Enviado pela companheira Monica Lima
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