Um escândalo e um ataque aos pobres estão ocorrendo na região do Campo Belo e Águas Espraiadas, em São Paulo. Nesta região, o Metrô está construindo a linha 17 - Ouro do Monotrilho, que ligará o Aeroporto de Congonhas ao Morumbi. O Metrô terceirizou para CDHU as ameaças contra as famílias das favelas. No Buraco Quente e Comando, restam poucas famílias, outras já deixaram os locais com medo de nada receber.
Por Benedito Roberto Barbosa (*)
Fonte: http://zequinhabarreto.org.br |
Na sexta feira, dia 23 de novembro de 2012, participei de uma manifestação em frente ao escritório da CDHU no Campo Belo, realizada pelos moradores das Comunidades do Buraco Quente e de Comando. Um escândalo e um verdadeiro ataque aos pobres estão ocorrendo naquela região do Campo Belo e Águas Espraiadas.
Nesta região, o Metrô de São Paulo está construindo a Linha 17 - Ouro do Monotrilho, que ligará o Aeroporto de Congonhas ao bairro Morumbi. A região é cercada por grandes e nada luxuosos edifícios, supermercados, hotéis e outros serviços. De forma estranha, a linha do Monotrilho está passando literalmente sobre a cabeça dos moradores de seis comunidades: Comando, Buté, Palmares, Zoião, Buraco Quente e Piolho.
A obra do Monotrilho da Linha 17 - Ouro faz parte da tal matriz de responsabilidade da Copa do Mundo de Futebol de 2014, e vai interligar na sua primeira etapa o aeroporto de Congonhas com a estação Morumbi da linha 9 da CPTM, atendendo especialmente a concentração de hotéis das regiões das Avenida Berrini e Nações Unidas. Óbvio, uma obra a serviço dos ricos.
Na região próxima ao aeroporto, a especulação imobiliária avança rapidamente, com grandes e modernas torres de luxo, as favelas estão sendo pressionadas, de um lado, pela ação do mercado imobiliário, e de outro, pelas obras do Monotrilho. O Metrô terceirizou para CDHU a violência e as ameaças contra as famílias das favelas. No Buraco Quente e Comando, restam poucas famílias, outras já deixaram os locais com medo de nada receber.
Somente um pequeno grupo tenta resistir e se mobilizar de alguma forma. Foram ao Ministério Publico, pediram apoio à Defensoria Pública, participam do Comitê Popular da Copa, tentam de todas as formas organizar as famílias para que resistam às obras do metrô. Possuem carta aberta que circula nas redes sociais e uma página no facebook denominada Rede Comunidades Espraiada.
Assustadas, pressionadas e revoltadas com a sua situação, as famílias estão recebendo uma mísera “indenização”. Ou ainda podem esperar, com uma “bolsa aluguel”, as torres que a CDHU promete construir na região. No entanto, com a alta valorização do custo de vida na região, as famílias não acreditam que conseguirão viver mais no local, e preferem, na sua grande maioria, ir embora. São retirantes urbanos ameaçados pela especulação imobiliária e pelas obras da Copa de 2014.
A CDHU não dialoga com a Comissão de Moradores local, toda a relação e a negociação são individuais, os valores das “indenizações” dividem ainda mais os moradores. Há pessoas que construíram suas casas em “condomínio familiar”, com casais de uma mesma família vivendo no mesmo quintal, porém, a CDHU indeniza apenas um representante da família, gerando angústia e desolação para os demais, que não conseguem receber. Diz a CDHU, que estes não têm direito à nada. A CDHU também não indeniza os pequenos comércios, as pessoas choram e ficam deprimidas.
As pessoas pegam o que podem e tentam comprar uma casa em outra favela, na periferia como na região do Grajaú, Cidade Dutra, na zona sul de São Paulo, ou no interior do estado. Muitas pessoas dizem que não têm como lutar e resistir. Perderam a esperança. Muitos moram nestas comunidades há mais de 30, 40, ou 50 anos. As pessoas vão saindo e a CDHU vai perfurando e demolindo as casas, transformando o local num “campo de guerra em escombros”, para pressionar os outros a deixarem mais rápido local. Quando as casas são semi demolidas, aumenta a quantidade de lixo, ratos, baratas, moscas e outros insetos.
Na Comunidade do Piolho a situação não é menos aterradora, vítimas de um incêndio no início de setembro deste ano, abandonadas pela Prefeitura e pelo Governo do Estado, as famílias estão vivendo em barracas e reconstruindo suas casas com tudo que podem. Sobre uma parte da comunidade será construída uma das estações do Monotrilho; algumas famílias também já deixaram o local. A obra avança atingindo as comunidades do lado direito, no sentido Aeroporto-Morumbi, as comunidades do lado esquerdo, do Zoião e do Buté, e outras sabem que logo a sua hora pode chegar. E se tudo continuar desta forma, parece que terão o mesmo destino.
(*) Dirigente da Central de Movimentos Populares, advogado da UMM e do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos.
*Retirado da Carta Maior
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