quarta-feira, 5 de junho de 2013

Importantíssimo lançamento de Mário Scheffer sobre a assistência farmacêutica em AIDS no Brasil traz abordagem inovadora sobre a questão farmacêutica

Da edição da Radis de abril de 2013
Republicado no blog da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde em 05/06/2013

Três décadas de antirretroviral

Livro analisa a história do tratamento da aids
Por Bruno Dominguez , jornalista

Desde o aparecimento da aids, o mundo assiste ao desenvolvimento de drogas para tratar a doença numa velocidade nunca vista na história da indústria farmacêutica. Dos primeiros casos à chegada ao mercado do primeiro antirretroviral, o AZT (zidovudina), passaram-se seis anos. E a tecnologia segue evoluindo. Essa saga é analisada no livro Coquetel – "A incrível história dos antirretrovirais e do tratamento da aids no Brasil" (Editora Hucitec, 2012), do presidente do Grupo Pela Vidda (Pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids), em São Paulo, e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Mário Scheffer.

“Das primeiras notificações, em 1981, de casos de uma enfermidade rara, que atingia homossexuais, a um dos mais graves e complexos problemas de saúde pública da atualidade, registram-se avanços significativos, revelando o desenvolvimento acelerado de recursos tecnológicos guiados pela demanda crescente de novos pacientes, pela necessidade contínua de inovações e pela competição entre empresas farmacêuticas multinacionais”, resume o autor. A falta de opções de tratamento, a gravidade e a elevada letalidade da doença, que atinge também os países ricos, impulsionaram as pesquisas à época. Mas o livro não somente relata essa trajetória: expõe as tensões entre o valor mercadológico, valor clínico e valor social das inovações em Saúde, em capítulos que detalham pesquisas clínicas, consenso terapêutico, registro, judicialização, prescrição, propaganda farmacêutica, preço e produção. No prefácio, o professor da Faculdade de Medicina da USP Euclides Ayes de Castilho opina que Scheffer traz “abordagens inéditas”, como do que há por trás da demora e da urgência na aprovação de antirretrovirais, o perfil do médico prescritor, o comportamento das empresas farmacêuticas, os motivos das ações judiciais por novos medicamentos e a capacidade nacional de produção de medicamentos genéricos.


Tecnologia e acesso

No Brasil, houve “a incorporação de tecnologia inovadora combinada com a execução de uma política de acesso universal”, avalia o autor, em entrevista à Radis. Cerca de 250 mil pessoas estão em tratamento com antirretroviral, pelo SUS, que distribui 21 medicamentos, de cinco classes terapêuticas, em 677 farmácias públicas e unidades de saúde. “Aqui, tivemos uma rara combinação de marcos legais — a Constituição, o SUS e uma lei específica que obrigava o governo a fornecer o tratamento da aids —, decisão política desde o início da epidemia e mobilização das pessoas atingidas, que se juntaram em ONGs e decidiram lutar pelo próprio destino”, diz.

Scheffer afirma que o avanço da política de combate à aids no país “prova que o SUS pode dar certo”, mas ressalva que é preciso dobrar o número de pessoas assistidas no sistema e reconhecer que a doença está fora de controle em várias regiões, em grandes centros e em grupos vulneráveis. Um exemplo: um em cada seis homossexuais está infectado pelo HIV na cidade de São Paulo, prevalência maior do que em populações africanas. “Como a oferta do teste de HIV não chega a todos que precisam, milhares buscam serviços de saúde já doentes, uma das razões de tantas mortes por aids — mais de 30, todos os dias, no Brasil”.

Posição perdida

Enquanto a vacina contra a aids e a cura da doença não são realidade, é preciso aliar antirretrovirais a estratégias de prevenção para controlar a epidemia, indica o autor, diminuindo o número de mortes e as infecções pelo HIV. “Queremos que o Brasil acorde, retome sua posição perdida de vanguarda e coloque em prática um plano ambicioso para zerar o número de novas infecções e conquistar uma geração livre da aids. O que seria da saúde pública sem utopias mobilizadoras como essa?” 

*Retirado da Radis
**Republicado no blog da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde em 05/06/2013

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