Em 10/09/2013 na edição 763
Por Franklin Berwig
Ligadas às novas correntes de comunicação, as empresas de mídia resolveram matar o jornalismo. Jornalistas que ingressam num novo emprego não têm opção senão assinar o abusivo contrato de profissional “multimídia”. Pagando a uma pessoa para desempenhar o trabalho de três, quatro, os empresários garantem divulgação de conteúdo em textos, fotos e vídeos. Mas esse conteúdo não é jornalístico, pois não passou por investigação e boa redação.
O jornalista que chega hoje a uma redação de um jornal tem a mesma quantidade de horas em sua jornada de trabalho que há dez anos. O ritmo, porém, é muitíssimo mais intenso. O profissional vai para uma pauta com o compromisso de registrar o evento em imagens, além de divulgá-las, do local, nas redes sociais do veículo para o qual trabalha. O estereótipo do jornalista com seu bloco de anotações não faz mais sentido. Não há mais tempo para anotar, pois quem anota conta com a existência de tempo para transcrição. Hoje, há tempo apenas para ligar o equipamento. O que vale é “mostrar”, não informar, nem interpretar. A isso se reduziu o “jornalismo” de um modo geral.
Além de pressionarem os jornalistas para que abasteçam uma diversidade de canais, as empresas passaram a envolver os profissionais na disputa e no controle dos índices de audiência. Cada vez mais, telões são instalados em redações com informações em tempo real sobre o número de pessoas que leram/viram determinado conteúdo. Quando o jornalista passa a se preocupar em demasia com os índices de audiência, ele enfia um pouco mais a faca no peito de sua própria profissão.
O jornalista é pressionado a produzir cada vez mais para colaborar com um mundo repleto de informações precárias e inúteis. Estresse e assédio moral fazem parte do cotidiano do profissional de comunicação. O conceito multimídia já matou o jornalismo. Tomara que não mate aquele que já foi jornalista.
Franklin Berwig é jornalista, Porto Alegre, RS
*Retirado do Observatório da Imprensa
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