18/12/2017
Hospital Universitário de Florianópolis tem menos leitos para a comunidade e sofre com superlotações constantes, falta de funcionários e até goteiras em sala de cirurgia
Por Rafael Thomé,
rafael.thome@somosnsc.com.br
Foto: Betina Humeres / Diário Catarinense |
Em dezembro de 2015, o Conselho da Universidade Federal de Santa Catarina (CUN-UFSC) aprovou a adesão do Hospital Universitário (HU) à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), com a promessa de contratar profissionais, reabrir leitos fechados e ampliar o número de consultas médicas, apesar de 70,59% da comunidade acadêmica ter votado contra a decisão. Dois anos depois, a Ebserh está longe de cumprir a promessa.
Em fevereiro de 2016, a gestora do HU publicou o documento "Dimensionamento de Serviços Assistenciais", onde apontava a necessidade de contratação de 770 profissionais, previa a reabertura de 65 leitos e a implantação de 28 novos. Porém, de lá para cá, o HU teve mais 29 leitos fechados e nenhum aberto. Se até o final de 2015 eram 209 leitos ativos e 65 desativados, hoje são 180 leitos abertos e 94 desativados.
A Ebserh afirma que a reabertura de leitos está ligada à contratação de pessoal. Em 2017 a empresa realizou um concurso para a contratação de 489 profissionais, mas apenas 25 foram efetivados - a maioria na área administrativa. As convocações têm prazo de validade até agosto de 2018, com a possibilidade de prorrogação por mais 12 meses, e deverão respeitar o cronograma de convocação para toda a rede de hospitais geridos pela Ebserh.
— Dos 39 hospitais que aderiram (à Ebserh), nós fomos o 38º. Então, muitos hospitais já realizaram concurso e estavam com prazo vencendo esse ano, por isso a Ebserh priorizou a contratação daqueles concursos. A partir do ano que vem entramos no cronograma de fato — justifica a superintendente do HU, Prof. Maria de Lourdes Rovaris.
Segundo a direção do HU, o ideal seriam 2.065 profissionais, sendo que a Ebserh aprovou o total de 1.720. Atualmente, o HU conta com 1.256 funcionários, e a falta de profissionais também ocasionou uma leve queda na média de consultas realizadas por mês. Ainda que esteja acima da meta de 9.863 consultas estipulada no "Dimensionamento de Serviços Assistenciais", o HU realizou entre maio de 2016 e novembro de 2017, em média, 10.435 consultas por mês. Até dezembro de 2015, a média mensal, de acordo com o sistema do HU, era de 10.816.
— Não é só a questão da reabertura dos leitos. O trabalhador do hospital está com sobrecarga de trabalho, o que causa um absenteísmo (faltas) significativo. Começamos fortalecendo a divisão de gestão de pessoas para poder receber os novos trabalhadores. Temos uma exigência muito grande por ser um hospital geral, mas a perspectiva é que possamos recuperar isso — diz Maria de Lourdes.
Quanto ao número de cirurgias realizadas, a Ebserh afirma que o HU tem superado o que foi acordado com a Secretaria de Estado da Saúde para 2017. Este ano, a unidade teve uma média de 268 cirurgias mensais, 18 a mais do que foi pactuado em contrato. Entretanto, de acordo com o "Dimensionamento de Serviços Assistenciais", em 2015 foram realizadas, em média, 523 procedimentos cirúrgicos por mês.
Hoje, às 11h00, no auditório do HU, será apresentado o primeiro relatório após a adesão à Ebserh.
Constantes fechamentos das emergências
Ao longo destes dois anos, a suspensão dos atendimentos nas emergências adulta e pediátrica foram rotina por conta da superlotação das alas. De acordo com a direção do HU, atualmente a emergência adulta, por exemplo, está com 90% dos leitos ocupados.
— Temos observado o aumento da demanda e, por isso, vivenciado períodos de superlotação. Elaboramos um procedimento operacional padrão, e quando atingimos os critérios que colocam em risco a segurança dos pacientes já internados, fazemos a suspensão temporária do atendimento de porta aberta. O atendimento referenciado, que é aquele encaminhado pelo Samu, bombeiros e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), continua sendo feito.
Para a superintendente Prof. Maria de Lourdes Rovaris, o fechamento da clínica médica em 2013 impactou a emergência, porque não há a possibilidade de transferir os pacientes para os leitos do hospital. Além disso, há o fato de o HU e o Hospital Celso Ramos serem os únicos de porta aberta na região central de Florianópolis.
— A gente não pode falar do HU como um ente isolado do sistema. A população precisa ser acolhida melhor nas UBS e UPAs, e deixar os hospitais para os encaminhamentos referenciados. É claro que o ideal é ficar (com a emergência) sempre aberta, mas temos que garantir a segurança daqueles que estão em atendimento.
Na emergência pediátrica, também houve suspensão temporária dos atendimentos não referenciados. De acordo com a direção do HU, isso aconteceu porque, com o número reduzido de profissionais, a equipe médica priorizou os atendimentos aos casos mais graves.
— Como não temos UTI pediátrica, precisamos estabilizar e transferir o paciente para o (Hospital Infantil) Joana de Gusmão. Quando fazemos a suspensão de uma ou duas horas é porque estamos concentrando toda a equipe no atendimento de um paciente grave.
Goteiras em sala de cirurgia
Um vídeo que circulou no Whatsapp (clique aqui para ver) na semana passada mostrou uma goteira em plena sala de cirurgia, durante um procedimento médico. O HU confirmou o fato e, em nota, disse que "o vazamento ocorreu no foco cirúrgico em função de ocorrência da quebra de um dos suportes da bandeja do equipamento de climatização do Centro de Material e Esterilização, que fica na mesma laje de cobertura do Centro Cirúrgico, porém distante aproximadamente quatro metros da sala cirúrgica".
De acordo com a direção do HU, "entre o suporte e o equipamento climatizador há uma bandeja com dreno, para possíveis condensações. Contudo, com a quebra do suporte, a bandeja virou, derramando água sobre a laje. Percebido isto, os técnicos secaram a laje de cobertura imediatamente. Mesmo com esta secagem, provavelmente a água infiltrou na laje e percorreu caminho através do eletroduto em seu interior, gerando a goteira no foco cirúrgico". Ainda segundo o HU, o problema já foi resolvido.
Reforma no telhado e aquisição de equipamentos
Entre os avanços do HU neste dois anos, a Ebserh destaca a habilitação em novos serviços na área de Atenção Hospitalar de Referência de Gestação de Alto Risco e Atenção Especializada às Pessoas com Deficiência, além da implantação da Gerência de Ensino e Pesquisa.
A implantação do Aplicativo de Gestão dos Hospitais Universitários, sistema de informatização dos atendimentos, e a elaboração do Plano Diretor Estratégico com a definição de desafios e respectivas ações devem contribuir para o fortalecimento da instituição.
Neste período, também foram adquiridos mobiliário completo para um alojamento conjunto e duas unidades de clínica médica; aquisição de equipamentos como aparelho de Raios X portátil, aparelho de ultrassom, máquina de hemodiálise, ambulância, videocolonoscópio (para realização de colonoscopia), videogastroscópio (para realização de endoscopia), ventilador BIPAP (respirador mecânico), entre outros, no valor total de R$ 1,9 milhão.
Porém, o feito mais comemorado foi a reforma do telhado. Segundo a superintendente, o HU sofria com constantes infiltrações e goteiras, fato que está resolvido após a obra, que durou quase um ano.
_ A gente vivia com baldes em todos os lugares, inclusive no centro cirúrgico. Em 2015, por exemplo, tivemos uma inundação em uma ala que tinha acabado de ser reformada e foi um recurso que tivemos que gastar duas vezes. A recuperação do telhado foi extremamente importante e bem marcante para a instituição.
Entrevista com a superintendente Maria de Lourdes Rovaris
- Que avaliação a senhora faz desses dois anos de Ebserh à frente do HU?
A avaliação é positiva, ainda que a adesão tardia tenha sido um fator que dificultou bastante. A gente já sabia disso em 2015, mas agora é trabalhar junto à Ebserh para que a gente possa ter o mais rápido possível um cronograma que nos dê a possibilidade de contratação ainda no primeiro semestre de 2018.
- Qual a projeção para os próximos oito anos?
O contrato é válido por 10 anos (já foram dois). O que a gente percebe é um fortalecimento da rede, porque antes estávamos sozinhos pleiteando alguma coisa e hoje estamos em um grupo de 39 hospitais. Temos compartilhado boas práticas. Acredito no fortalecimento da rede e que o HU consiga recuperar sua plena capacidade, crescer como instituição de ensino, pesquisa e extensão, além do desenvolvimento tecnológico.
- Qual o maior déficit de profissionais do HU?
Hoje, nosso maior problema é a falta de médico anestesista. Por isso, essa será a prioridade nas contratações. Já estamos socilitando cinco anestesistas para contratação imediata, porque não é só no centro cirúrgico. Temos uma exigência muito grande, por conta de ser um hospital geral. Também temos problemas com pessoal de enfermagem, mas hoje o que está travando são os anestesistas. Assim que a Eserh liberar, vamos contratar.
- Quais as dificuldades na gestão do HU?
Não é fácil. Às vezes as pessoas esquecem que o HU é uma instituição que funciona 24 horas por dia. Não tem Natal, Ano Novo, madrugada. Precisamos estar o tempo todo em pleno funcionamento.
*Retirado do Hora de Santa Catarina
Nenhum comentário:
Postar um comentário